ATA DA QÜINQUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 01-12-2003.

 


Ao primeiro dia do mês de dezembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e treze minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Manoel Quadros, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo n° 126/03 (Processo n° 2653/03), de autoria da Vereadora Maria Celeste. Compuseram a MESA: o Vereador Elói Guimarães, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Deputado Estadual Flávio Koutzii, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Manuel Quadros, Homenageado; a Vereadora Maria Celeste, 1ª Secretária deste Legislativo. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, procedeu à leitura de mensagem eletrônica alusiva à presente solenidade, enviada pelo Deputado Federal Henrique Fontana. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Maria Celeste, em nome das Bancadas do PT, PCdoB, PMDB, PP, PPS, PSB e PSDB, teceu considerações a respeito da trajetória pública do Senhor Manoel Quadros, lembrando a militância política do Homenageado junto a movimentos de mobilização popular que lutavam pela defesa dos direitos humanos e pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna para todos os porto-alegrenses. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, saudou a iniciativa da Vereadora Maria Celeste, de concessão do Título Honorífico hoje entregue, destacando a importância do trabalho jurídico realizado pelo Senhor Manoel Quadros ao longo dos anos no desenvolvimento de atividades comunitárias e de formação política da população. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Deputado Estadual Flávio Koutzii, que enfatizou a importância da homenagem hoje prestada pela Casa ao Senhor Manoel Quadros. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Maria Celeste e a Senhora Carmen Quadros, esposa do Homenageado, a procederem à entrega da Medalha e do Diploma alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Manoel Quadros, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Elói Guimarães e secretariados pela Vereadora Maria Celeste. Do que eu, Maria Celeste, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 


O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Sr. Manuel Quadros.

Compõem a Mesa o nosso homenageado, o Sr. Manuel Quadros; o Sr. Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; e o Deputado Flávio Koutzii, representando, nesta solenidade, a Assembléia Legislativa. O Deputado Flávio Koutzii já foi nosso Vereador aqui da Câmara Municipal de Porto Alegre.

A Ver.ª Maria Celeste é a proponente desta homenagem.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

Vamos ler o teor do e-mail que nos manda o ex-Vereador desta Casa, hoje Deputado Federal, Henrique Fontana (Lê.): “Gostaria de saudar a decisão da Câmara Municipal de Porto Alegre de conceder o Título de Cidadão de Porto Alegre a Manuel Quadros, atendendo proposição da Ver.ª Maria Celeste. A trajetória de vida de Manuel Quadros, o Seu Maneca, como é carinhosamente chamado por seus amigos e companheiros, é um exemplo para todos nós. Desde os 14 anos, Seu Maneca está na luta pela construção de um Brasil mais justo e humano. Morando em Porto Alegre desde os 18 anos, sua vida tem sido marcada por um trabalho comunitário, político e social incansável, motivo de orgulho para todos nós. É mais do que justa e oportuna, portanto, essa homenagem a um homem que escolheu Porto Alegre como sua segunda terra natal e a militância social como razão de sua vida”.

A Ver.ª Maria Celeste, proponente desta homenagem, está com a palavra.

 

A SRA. MARIA CELESTE: Sr. Presidente dos trabalhos, Ver. Elói Guimarães; meu companheiro homenageado, Sr. Manuel Quadros, é com muita honra e muita alegria que o vemos aqui sentado à mesa. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero fazer uma saudação especial à família do Seu Manuel, à sua esposa Dona Carmen, que está aqui conosco, aos filhos, às irmãs, aos irmãos, aos amigos que estão aqui, hoje, nesta Casa, aos netos, às netas.

O Seu Manoel Quadros, com 72 anos completados agora em setembro, é aposentado, morador do Bairro Camaquã, na zona Sul de Porto Alegre. É filho do Seu José Inácio de Oliveira Quadros e da Dona Angelina da Costa Quadros, natural de São Jerônimo, cidade onde iniciou sua atividade comunitária, política e social. Veio para Porto Alegre aos 18 anos de idade e, com certeza, adotou Porto Alegre como sua cidade.

Seu Maneca, como é conhecido, desde os 14 anos já militava na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil, o PCB. Chegando em Porto Alegre, trabalhou e militou em movimentos sociais ligados à luta pela saúde, assistência social e pelos direitos humanos.

Há oito anos participa do Movimento Sete de Setembro em Porto Alegre, um grupo criado por oficiais da Reserva do Exército e que é composto por ativistas dos direitos humanos e da defesa da nossa Pátria.

Foi um dos criadores da FRASAPE - Federação Rio-Grandense de Associações de Aposentados e Pensionistas, na qual ainda atua.

Desde a implementação do Orçamento Participativo em Porto Alegre, Seu Maneca atuou e atua diretamente junto a sua comunidade, a fim de obter conquistas nos setores da saúde e da assistência social, em especial.

Ao final de 2001, Seu Maneca ajudou a fundar o Instituto Brasileiro de Promoção da Dignidade Humana, o IPDH Brasil, uma organização não-governamental da qual é o atual presidente.

Mas Seu Maneca simboliza muito mais do que tudo isso para todos nós. Isto porque aos 72 anos de idade ele continua fiel aos seus ideais de liberdade e de justiça social. Possui uma lucidez invejável acerca do papel da política na construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais humana para todos nós.

Assim, esta singela homenagem que prestamos hoje aqui ultrapassa essas barreiras, pois estamos falando de um ser humano que sempre, ao longo de sua vida, procurou, através do fazer político, contribuir com o próximo, para que todas as pessoas tenham o direito de viver, e viver dignamente.

Seu Maneca sempre se negou a ficar esperando, olhando a vida passar pela janela, o trem passar pela janela. Ele sempre buscou, e busca, no seu cotidiano, ainda hoje, ser construtor não apenas da sua história, não apenas construtor da sua família, que tantos frutos nos deu, mas construtor de uma história da sua comunidade.

Homens como o senhor, Seu Maneca, nos fazem ver que é possível lutar pela construção de uma nova sociedade. E aqui eu quero lembrar do dia em que nos conhecemos, numa reunião, na garagem da sua casa, lá na zona Sul, no início da nossa campanha para Vereadora de Porto Alegre. Nós estávamos ali, discutindo com a comunidade o jeito, o nosso jeito, do nosso olhar, do nosso modo, à maneira como nós nos relacionamos com as comunidades, o que nós queríamos para a campanha de Vereadora e, além da campanha, o que nós queríamos de projeto político para a cidade de Porto Alegre. A importância que foi aquela reunião, naquele dia, demarcando na zona Sul, quando nos conhecemos, foi fundamental para todos nós. Ali discutíamos o projeto político da campanha da Ver.ª Maria Celeste e discutíamos também o projeto político do Partido dos Trabalhadores na campanha para a Prefeitura de Porto Alegre. E, ao final da reunião – não sei se o senhor lembra disso, mas eu lembro –, o senhor me disse: “Companheira, vais estar na Câmara Municipal representando esse nosso jeito de ser, simples, com esse olhar de ser, com essa maneira de ser, como as nossas comunidades, como o nosso povo age e interage na sua simplicidade, e, a partir dessa simplicidade, desse nosso novo jeito, ou do nosso jeito de ser, trabalhar pelo coletivo.” Eu sorri e disse: “Vamos ver, Seu Maneca, não é bem assim, é muito cedo, isso tudo é o início”. E o senhor me disse: “É o início de muitas conquistas, não apenas para ti com esta campanha, mas de muitas conquistas para nós que militamos pela melhoria na condição de vida de muitas pessoas”. Isso é fundamental!

E durante a nossa campanha, o tempo todo, o Seu Maneca, 72 anos, é que foi a garra, o gás, o oxigênio daquela militância, daquele “formigueiro”, como ficamos conhecidos na cidade de Porto Alegre. Em todas as caminhadas, todas as atividades de campanha, lá estava o Seu Maneca puxando a meninada, que muitas vezes sentia cansaço no decorrer de toda aquela trajetória. Muitos de nós sentíamos cansaço, desânimo e incerteza, e ele chegava e dizia: “Vamos em frente, gurizada! Vamos lá! Falta pouco, falta muito pouco para a gente ver o nosso projeto representado na Câmara de Vereadores.” Lembra disso, Seu Maneca? Muitas noites, na colagem, de madrugada, puxando a gurizada. Muitos desafios nós enfrentamos, porque, acima de tudo, o Seu Maneca acreditou e acredita na importância de estarmos construindo espaços diferenciados e oportunizando a pessoas como nós estarmos trabalhando na Câmara Municipal, e hoje ele está sendo homenageado, merecidamente, por todos nós.

Este é apenas um mimo, eu diria assim, um reconhecimento ao trabalho de um homem que muito nos inspira no quotidiano, no dia-a-dia de nossas atividades. Um homem extremamente respeitado e admirado por todos nós. Não é à toa que estamos aqui hoje. Não só sentimos respeito, mas sentimos orgulho, Seu Maneca, de tê-lo como amigo e como companheiro.

Por esse histórico de vida, baseado na defesa de uma vida digna, de homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras de nossa Cidade, é que estamos aqui, hoje, reunidos, todos nós, nesta Casa, que é a Casa do Povo, que é a nossa Casa, prestando assim o devido reconhecimento a esse cidadão que adotou Porto Alegre como sua segunda terra natal, e que faz de Porto Alegre, todos os dias, a construção de uma vida mais digna para todos, a inspiração da sua existência.

Para finalizar, eu quero citar uma frase da Lígia Brack em que ela diz: “Vais chegando de mansinho/ E eu que esperava/ Fogos de artifício/ Esqueci que as estrelas não fazem barulho/ Elas simplesmente chegam”.

Parabéns, Seu Maneca, pelo dia de hoje. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Nós queremos registrar a presença do Ver. Reginaldo Pujol, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça desta Casa.

O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e falará em nome do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Convocado pelo Ver. Elói Guimarães, eu assumo a tribuna para cumprimentar o homenageado e a homenageante. Os dois têm razões de sobra para que, no dia de hoje, confraternizem e vejo, no gesto da Ver.ª Maria Celeste, a intenção clara, nítida, de promover um destaque de um exemplo de vida que deve ser proclamado e por todos nós respeitado.

Eu tenho dito, Dep. Flávio Koutzii, que nem todos os caminhos são para todos os caminhantes, mas há um caminho que, numa Casa plural como a nossa, tem de ser colocado numa posição não de dogma, mas de paradigma. Esse caminho é o que leva ao reconhecimento, ao respeito e, sobretudo, à coleta dos exemplos que nós temos de oferecer à cidade de Porto Alegre, especialmente para aqueles que amanhã irão nos suceder nesta Casa, nas nossas ruas, nos nossos bairros, nas nossas vilas. Precisam todos saber que esta Cidade foi construída pelo trabalho de muitos, alguns até no anonimato - não é Vereadora? -, alguns reconhecidos no seu círculo menor, mas não proclamados no círculo maior.

A Ver.ª Maria Celeste, com a sensibilidade que tem caracterizado o seu mandato, soube pinçar entre aquelas pessoas que contribuíram para a sua formação política e que contribuíram para o desenvolvimento das atividades comunitárias no bairro onde elas se encontram inseridas, um bairro pelo qual tenho grande apreço, um exemplo muito adequado.

Cabe a nós, especialmente a nós que não pertencemos à mesma grei partidária da Ver.ª Maria Celeste, dizer ao senhor que nem a diferença de posições políticas faz com que possamos deixar de reconhecer a inteligência e, sobretudo, a oportunidade na qual se valeu a homenageante para encontrar o homenageado.

Porto Alegre, a Câmara Municipal, o Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, cujo Presidente nos honra com a sua presença, vão recolher mais um pedacinho desse imenso mosaico que forma a nossa sociedade. O senhor é um belo exemplo, um respeitável exemplo, um digno exemplo em que esteve inspirada a Ver.ª Maria Celeste, quando entendeu de propor à Casa, com a sua liderança, o seu nome e vê-lo aprovado por unanimidade como o foi.

E nós que, eventualmente, tivemos oportunidade, como Presidente da Constituição e Justiça, de dar curso a esse processo, nos sentimos muito felizes em vê-lo terminar o dia de hoje da forma que está terminando, com o senhor recebendo aqui na Casa, com a Ver.ª Maria Celeste, acolhendo na sua Casa, os admiradores e aqueles que mais de perto conhecem o seu trabalho.

Espero que tenhamos a competência de fazer repercutir ações de coerência política, de constância na vida comunitária que senhor tão bem encarna, porque esses exemplos merecem ser proclamados pela cidade de Porto Alegre! E a Ver.ª Maria Celeste teve a sensibilidade de assim proceder. Meus cumprimentos! (Palmas.) Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Na palavra da proponente, Ver.ª Maria Celeste, e do Ver. Reginaldo Pujol, falou a Casa. Agora, eu vou oferecer a palavra a um ex-Vereador, brilhante Vereador, que foi Líder nesta Casa e também Líder na Assembléia Legislativa, o Deputado Flávio Koutzii, para que utilize a tribuna da Casa do Povo da cidade de Porto Alegre.

O Sr. Flávio Koutzii está com a palavra.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes e demais presentes.) Eu não sabia que haveria essa generosa decisão do Presidente de eu ocupar a tribuna. Eu não tenho muita experiência, então, o que eu vou dizer, evidentemente, não é nenhuma reflexão feita anteriormente, mas, espontaneamente, aquilo que sinto como qualquer um dos presentes - homens e mulheres, companheiros e companheiras -, se lhes fosse dada a possibilidade de falar. E, certamente, falariam, primeiro, com o coração; não só do sentimento, que é reconhecimento, respeito, e emoção, mas esse coração que é consciente, ou seja, aquele que admira aqueles que são capazes de construir as suas vidas, formando novos mundos; construir as suas vidas, tentando empurrar o espaço da justiça; construir as suas vidas, buscando condições de igualdade. Mas não se alcança nada disso sem lutar; não se faz nada disso sem encontrar barreiras; e, não se conquista nada disso sem derrubar, às vezes, a intolerância, a injustiça, e a resistência, muitas vezes conservadoras na nossa sociedade.

Eu quero expressar - e me perdoe a omissão, Ver. Reginaldo Pujol, nós nos conhecemos desde a juventude secundarista e universitária - o meu reconhecimento pelas suas palavras, que, com muita precisão - e mais do que precisão-, com muita dignidade, dão conta do que somos todos nós, as diferenças e os valores que devem ser reconhecidos, especialmente num espaço privilegiado, que, em certos momentos, esta Casa oferece; não só o espaço democrático do debate, da votação e da legislação, mas o espaço do reconhecimento de muitos dos seus, quer dizer, dos cidadãos nascidos ou não em Porto Alegre, os quais, de uma forma ou de outra, se distinguem. E o que é próprio desta Casa - talvez mais até do que a gente consegue fazer na Assembléia Legislativa, como ela é a Casa de Porto Alegre e Porto Alegre é uma cidade grande, mas é uma Cidade - é que, talvez, a gente possa ficar sempre um pouco mais perto do que merece ser sublinhado e destacado; a gente pode ficar mais vizinho das coisas que aparentemente são menos grandiosas ou importantes do ponto de vista das grandes hierarquias, mas são vitais, fundamentais, insubstituíveis e imprescindíveis daquilo que é a hierarquia principal de nossas vidas: fazer de nossas vidas um espaço de realização, de felicidade pessoal, se pudermos, mas de construção de uma nova sociedade, custe o que custar, no sentido de nossos próprios esforços e de, mesmo, dar pedaços de nossas vidas.

O que se reconhece hoje aqui ao homenagear o Manuel, o Seu Maneca, é exatamente isso, o que tão bem a Ver.ª Maria Celeste conseguiu dizer, poeticamente, na sua fala, com essa idéia das estrelas que, silenciosamente, se fazem presentes e iluminam o caminho. É por meio de “manecas”, de Seus Manecas como esse e outros, que conseguimos conquistar muitas coisas para a nossa gente, para a nossa sociedade e, por isso, apesar do que é difícil ainda na sociedade brasileira, gaúcha e porto-alegrense, somos brasileiros com futuro, com sonhos e com imensas possibilidades. E isso não existiria se o Seu Maneca não fosse quem é, quem foi e quem ainda será. A minha homenagem, o meu abraço, o meu reconhecimento e obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Agora, vamos passar para a fase alta da solenidade, a fase importante nessa nossa liturgia, que é a titulação da cidadania honorária àqueles que constroem a Cidade, o Estado e o País, como o Seu Maneca. Vou convidar a proponente, Ver.ª Maria Celeste, para que venha até a Mesa; também convido a Dona Carmen Quadros, esposa do homenageado; filhos, filhas e netos, enfim, que venham para nós solenizarmos este momento importante na vida do Seu Maneca, que é a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre.

 

(Procede-se à entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)

 

(O Sr. Presidente procede à leitura do Diploma e do texto constante na Medalha.)

 

Agora, nós passaremos a palavra ao homenageado, ao mais recente Cidadão Honorário de Porto Alegre, o Sr. Manuel Quadros, que falará lá da tribuna.

 

O SR. MANUEL QUADROS: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em especial, também, quero saudar o Ver. Pujol, que me fez algumas referências das quais eu até não sou tão merecedor assim.

Eu escrevi algumas coisas aqui e espero que me desculpem se houver um pouco de tremura, se houver lágrimas, mas eu vou fazer o possível para que eu não as solte. Neste momento muito especial da minha vida de homem simples, como tantas outras pessoas dessa Cidade, andei e continuo andando anonimamente há muitos anos. Cruzo-me, vez que outra, com celebridades, e, quando estou mais desinibido e menos apressado, me aproximo e os cumprimento apertando sua mão. Homens ilustres o são por suas obras. E minha maior obra eu a realizei como artesão e técnico. Por isso ela é pouco conhecida pelo público, apenas por muitos empresários que delas faziam uso para produzirem séries de peças fundidas em metais diversos.

Inesperadamente, entre surpreso e envolvido por um surto de felicidade, fui informado de que meu nome seria indicado pela Ver.ª Maria Celeste, minha companheira, para receber o honroso Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. Desde então, passei a conviver com esse sonho por um tempo que já me parecia muito longo, por conta, certamente, da minha expectativa, pois eu sabia de antemão que a proposta teria de ser apreciada e votada pelas Sras. Vereadoras e pelos Srs. Vereadores do nosso Legislativo Municipal.

Doravante, passo a ser Cidadão desta Cidade, onde vivo há mais de meio século. Aqui trabalhei, casei-me, criei meus filhos, ao lado de minha esposa, amiga e companheira de todas as horas. Estivemos unidos até aqui nas boas e nas amargas horas.

Fiz incontáveis amigos e amigas, alguns deles aqui presentes. Esses, entre outros motivos, justificam sobejamente o carinho e o afeto que eu tenho por esta Cidade, bela e acolhedora cidade.

Quando aqui cheguei, no longínquo novembro do ano de 1951, ela era, por óbvio, consideravelmente menor do que hoje. Sua população, segundo ouvi de um jornalista e ator de radiodifusão daqueles tempos, ficava entre 350 e 400 mil habitantes. Havia muito poucos arranha-céus, ou espigões - como têm sido chamados mais modernamente -, porém seus encantos já eram tantos que inspiravam poetas como o saudoso poeta Mário Quintana.

A nossa música popular tinha expressão maior nos sambas sentimentais e poéticos, que ficarão para sempre na memória dos apaixonados. Elas foram e ainda o são referências da música popular brasileira. Refiro-me às músicas do saudoso e inesquecível Lupicínio Rodrigues. Quando ele nos deixou, ficou conosco apenas uma saudade imensa.

Outra música que fala da beleza da nossa Cidade e da qual, infelizmente, não obtive o nome do compositor, se não estou enganado chama-se Alto da Bronze. Apesar de eu não entender de música, soa-me como um poema musical de incomparável encantamento, ditado pela mais nobre inspiração e sensibilidade da alma humana.

A praia de Ipanema atraía um grande público, principalmente nos finais de semana, para o banho de praia nas águas límpidas de então. Ao cair a tarde, apreciava-se um pôr-do-sol dos mais belos do nosso planeta; esse, ainda o temos.

Os barulhentos bondes faziam parte da paisagem da Cidade. Deixaram saudades, quando silenciaram e sumiram. Mas com essa perda temos de concordar, pois Porto Alegre cresceu muito, e o transporte teria de ser modernizado.

Eu, todavia, chegava para trabalhar, e tinha de trabalhar até nos sábados e domingos. A demanda por modelos para a fundição era grande, e os profissionais, muito poucos, eram estrangeiros ou de origem estrangeira.

Cheguei como primeiro aluno formado pelo SENAI no Rio Grande do Sul, na profissão de modelador de fundição. Fui também o primeiro a deixar a escola para trabalhar em uma empresa em Porto Alegre. Meu mestre de ofício no SENAI, de nacionalidade espanhola, era procurado por proprietários de oficinas de Porto Alegre a fim de obterem informações sobre seus alunos. Fui por ele indicado a um empresário desses e me transferi para cá. Após me decidir a viver aqui, voltei à escola e convenci mais dois ex-colegas de profissão a virem para Porto Alegre, com emprego garantido e com condições de trazerem seus pais. Em curto prazo, tínhamos mais dois profissionais jovens e competentes. Nossa empresa passou a ser a maior do ramo nesta Capital.

Fiz essa explanação com o intuito de dar uma idéia da minha modesta contribuição para o crescimento das indústrias de fundição, fábricas de máquinas diversas, como fábricas de máquinas agrícolas, recuperação de tratores importados, máquinas de abrir estradas, indústria naval, metalúrgicas em geral e outras.

Vou concluir, agradecendo à Vereadora e companheira Maria Celeste pela proposição. Tenha você a certeza de que esta é a maior homenagem que já recebi em toda a minha vida. A minha gratidão será difícil de ser traduzida em palavras; portanto, apenas digo muito obrigado.

Aos senhores e senhoras Vereadores de todos os Partidos, repito o agradecimento que dirigi à companheira Maria Celeste por absoluta falta de palavras que possam traduzir a minha real gratidão pelo Título que ora me é concedido.

Às demais pessoas presentes, o meu mais sincero agradecimento pelo prestígio com que me distinguiram. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Estamo-nos encaminhando para o encerramento desta solenidade. Tenho dito e temos todos dito, Deputado Flávio Koutzii, que ao Presidente cabe presidir, mas rapidamente aqui eu gostaria de dizer que a Casa se sente honrada pela oportunidade, Ver.ª Maria Celeste, de poder, aqui, conceder o Título, por unanimidade, de Cidadão a uma figura tão cara para todos nós, para a sua família, enfim, para a sua comunidade, que é o Sr. Maneco, o Sr. Manuel Quadros - uma grande simpatia, um homem que traz a alma, o coração aberto, e que ajuda a construir toda esta nossa realidade que se chama Porto Alegre, uma Cidade tão bela, tão bonita, uma Cidade com a qual todos nós temos compromisso. E quando se faz esta homenagem de entrega do Título, nós conferimos ao homenageado um compromisso a mais: o de continuar fazendo o que vinha fazendo pela Cidade e, Sr. Manuel Quadros, o senhor passa a integrar o Conselho de Cidadãos de Porto Alegre, cujo Presidente está ao seu lado, e, na minha opinião, Deputado Flávio Koutzii, é o Conselho mais importante da cidade de Porto Alegre. Por que ele é o mais importante? Primeiro, porque é escolhido pelo povo, os Vereadores representam o povo de Porto Alegre, aqui nós somos o mosaico ideológico onde a pluralidade ideológica se expressa nesta Casa. Então, vejam só a legitimidade, é a cidade de Porto Alegre representada pelos seus Vereadores, que neste dia, neste ato, concede a cidadania emérita ao Sr. Maneca, pelo que fez, pela sua luta, por ser um cidadão, militante social, chefe de família, pai, avô, enfim, uma dessas pessoas que integram o povo de Porto Alegre, esta nossa sociedade, que tem os seus problemas, é verdade, mas haverá de superar. Então, são as palavras que nós gostaríamos de expressar ao Sr. Maneca, o nosso agradecimento, a Câmara Municipal de Porto Alegre está-lhe agradecendo por tudo, pelo muito que o senhor fez e que haverá de fazer para o desenvolvimento da nossa Cidade.

Neste momento, convidamos todos os presentes a ouvimos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos pela presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h07min.)

 

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